+55 (51) 3228-8844
coesars@coesars.com.br

30/08/2022 - Biosseguridade para matrizes e frangos precisam ser adaptáveis

As ações de biosseguridade na produção comercial de aves são fundamentais para evitar a entrada e propagação de doenças na granja. As medidas garantem o bem-estar dos animais e das pessoas envolvidas na produção, além, é claro, de garantir a segurança dos alimentos que chegam na mesa dos consumidores.

Os procedimentos de biosseguridade a serem implementados e aplicados em um sistema de produção de matrizes de corte que vão produzir ovos para a produção de frangos são aqueles contemplados como os dez elos da corrente de biosseguridade: isolamento físico do sistema; fluxo operacional; limpeza e desinfecção; monitoramento e análise; possível erradicação de enfermidades; vacinação e medicação; auditorias de rotina; educação continuada; plano de contingência e recursos financeiros.

Para o PhD em Medicina Veterinária, Luiz Sesti, antes de desenhar um programa de biosseguridade é necessário saber qual o tipo de produção avícola industrial o programa será implementado. Portanto, segundo ele, um programa de biosseguridade sempre deve ser flexível e adaptável. “Ou seja, saber qual tipo de granja para definir o escopo e o nível de detalhes dos procedimentos do programa de biosseguridade desenhado especificamente para aquele sistema de produção”, explica Sesti.

Via de regra, será necessário corrigir, adaptar e atualizar o programa, sempre com o objetivo de manter a maior eficácia possível dentro das limitações econômicas e operacionais do sistema de produção.

Sem receita

Um erro básico apontado por Sesti, e muito comum na avicultura industrial, é a busca por uma “receita de bolo”, ou seja, um conjunto qualquer de procedimentos de biosseguridade que possam ser aplicados e efetivos em qualquer situação. “Todo sistema de produção que inicie sua atividade desta maneira já começa errando drasticamente”, ressalta.

De acordo com Sesti, a melhor e principal ferramenta para a biosseguridade é a educação continuada de todos os envolvidos dentro do sistema de produção. “Uma equipe treinada e constantemente atualizada sempre será o melhor caminho para um programa de biosseguridade eficiente”, destaca.

Pontos de atenção

Segundo Sesti, três pontos básicos devem ser considerados dada a importância da biosseguridade na avicultura industrial. Ele cita primeiro a saúde pública, ou seja, a produção de proteína animal extremamente nutritiva, saudável e livre de contaminações por agentes zoonóticos que possam afetar a saúde dos consumidores.

Outro ponto é a manutenção do nível de saúde dos plantéis brasileiros, de maneira que a exportação de produtos avícolas e material genético não seja afetada.

A terceira questão apontada por Sesti faz referência a rentabilidade e sobrevivência da atividade avícola. Conforme ele, plantéis enfermos não desempenham bem zootecnicamente e colocam em risco a continuidade do sistema de produção. “Além disso, a oferta de empregos e manutenção da mão-de-obra nas zonas de produção podem ser seriamente prejudicadas”, destaca.

Outro ponto extremamente importante que precisa ser observado é o fato de que praticamente todos os sistemas de produção avícola produzem alimentos para consumo humano (ovos e carne fresca ou industrializada). “Os procedimentos do programa de biosseguridade deverão obrigatoriamente contemplar a prevenção da transmissão de agentes infecciosos zoonóticos dos produtos avícolas destinados para o nosso consumo”, menciona.

O terceiro pilar de atenção é a ciência sobre os desafios causados por agentes infecciosos presentes na região, estado ou país em que está localizado o sistema de produção. “Isto será chave, por exemplo, para o planejamento da produção e para a definição do programa de vacinação das aves”, orienta Sesti.

Existem situações de sistemas de produção especializados, tais como as granjas SPF (Specific Pathogen Free/Livre de Patógenos Específicos) onde se aplicam os mais estritos procedimentos de biosseguridade possíveis tecnicamente. “Nestes sistemas se originam matérias-primas indispensáveis à produção de insumos e antígenos para vacinas de uso animal e humano”, explica.

Perdas

Qualquer agente que possa causar enfermidade em um sistema de produção será um propagador de perdas econômicas, não somente para a empresa afetada, mas também para a região e o país onde a empresa está situada.

De acordo com Sesti, tais perdas se apresentam como mortalidade e baixo desempenho zootécnico, entretanto, existem enfermidades que causam impactos mais significativamente que esses: o impacto político. A Newcastle e a Influenza Aviária, por exemplo, são enfermidades capazes de afetar toda uma indústria mundialmente conhecida, tal como a indústria avícola brasileira. “Uma cadeia produtiva que exporta cerca de 40% da sua produção”, destaca Sesti. Portanto, se o Brasil fosse afetado por uma dessas enfermidades, isso geraria enormes perdas econômicas geradas pela imediata parada de exportação de carne avícola com duração mínima de até seis meses, afirma Sesti. “Caso isso ocorresse, o país teria que provar a erradicação da enfermidade para todo o mercado mundial, o que geraria perdas econômicas imensuráveis”, afirma.

Biossegurança e Biosseguridade

Biossegurança é a tradução literal da palavra “biosafety” (inglês). Refere-se explicita e unicamente à saúde humana. Há inclusive uma lei nacional publicada em 24 de março de 2005 que descreve as diretrizes de biossegurança que devem ser utilizadas pelo país, além de contar com uma comissão específica nomeada responsável (CTNBio).

Sesti explica que as normas e planos de biossegurança são permanentes, praticamente imutáveis (a não ser para tornarem-se ainda mais restritos). “O objetivo de um programa de biossegurança é risco zero e 100% proteção para o ser humano”, afirma Sesti.

Esta definição é aplicada geralmente para pessoas que trabalham em laboratórios humanos, no desenvolvimento de organismos geneticamente modificados, laboratórios e fábricas onde se manuseiam qualquer tipo de material que possa afetar a saúde humana (biológicos, químicos, radiativos, etc.).

Em geral, as normas de biossegurança estão intimamente ligadas ao princípio da precaução, que prevê, em linhas gerais, que se algo pode afetar a saúde humana, em algum momento, deve ser proibido.

Biosseguridade é algo totalmente diferente, relacionada única e exclusivamente à saúde animal, principalmente àquelas espécies criadas com o objetivo industrial de produzir alimento humano. Biosseguridade é a tradução literal da palavra “biosecurity” (inglês) que surgiu na segunda metade da década de 1980 dentro da indústria suinícola dos Estados Unidos, conceito imediatamente absorvido e implantado pela indústria avícola.

De acordo com Sesti, as normas de biosseguridade, ao contrário das de biossegurança, são e devem ser flexíveis, adaptáveis e evolutivas. De outra maneira, biosseguridade impediria a produção de proteína animal nas indústrias avícolas e suinícolas. “Biosseguridade prevê o uso de riscos conhecidos e assumidos, sem os quais não poderia haver produção animal economicamente rentável”, ressalta.

Ainda conforme Sesti, um programa de biosseguridade, ao contrário de um programa de biossegurança, se adapta a uma situação epidemiológica específica. Além disso, pode tratar de prevenção, controle/convivência ou erradicação, com o objetivo de conseguir uma produção de proteína animal de alta qualidade com custos acessíveis. “Basicamente, biosseguridade está relacionada à Medicina Veterinária preventiva e à produção de proteína animal”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: O Presente Rural

Galeria de fotos
 Biosseguridade para matrizes e frangos precisam ser adaptáveis